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quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Interesse

-Luisa Ducla Soares




Comecei por ouvir e depois ler contos tradicionais. Como andei dos cinco aos dez anos numa escola inglesa, familiarizei-me com a tradição britânica e acho que o gosto pelo nonsense poderá vir-me dessa tradição.
O meu pai sabia de cor muitas lengalengas, muita poesia popular (e não só) que gostava de recitar. Uma criada antiga dos meus avós, analfabeta, sabia as histórias do Bocage, que me encantavam, e lendas terríficas de lobisomens e almas penadas que me enchiam de pavor e curiosidade. A literatura oral teve um grande peso na minha infância. Talvez mais importante que ler um livro, nos verdes anos, seja compartilhar o encanto da língua e de uma narrativa com alguém.
O livro que mais recordo, dessa época, era uma grossa obra do século 19 em vários volumes intitulada “As maravilhas da natureza”. Pertencera ao meu avô e meu pai guardava-a num armário, como uma relíquia. Saía de lá aos Domingos e líamos os dois descrições e histórias de animais ilustradas com desenhos feitos à pena.
Na adolescência recusei a literatura melada que pretendiam impingir-me Tive a sorte de receber de um tio (que queria aliviar a estante) as obras completas de Júlio Verne. Devorei-a de ponta a ponta. Li todo o Eça de Queiroz, que me proibiam, às escondidas, com uma lanterna debaixo dos lençóis. E descobri os poetas contemporâneos.
Na literatura infantil clássica ou actual, nacional ou estrangeira que livros indicaria a um jovem leitor português?
LDS - Um livro é como um amigo. Os amigos escolhem-se, em geral, por afinidades. Um bom livro para uma criança não o é necessariamente para o irmão ou para o colega de carteira.
Julgo que as recolhas de literatura tradicional (lengalengas, trava-línguas, adivinhas, contos populares portugueses) são indicadas para as crianças mais novas que, através delas, se familiarizam ludicamente com a beleza da língua, os seus ritmos e especificidades. Amar a língua desde a mais tenra idade é fundamental.
A literatura clássica nem sempre se mantém clássica... Há formas de ver o mundo, tipos de narrativas e abordagens de temas que não se comprazem com o passar dos tempos. Muitos dos clássicos da literatura infantil só são legíveis pelas crianças em traduções e adaptações. E infelizmente muitas dessas traduções e adaptações desvirtuam as obras. Claro que há honrosas excepções...
Quanto à literatura actual, podemos contar com uma riquíssima produção de obras de géneros muito diversificados, da aventura à poesia, da banda desenhada à ficção científica, da biografia à novela sentimental, dos livros de humor aos de reflexão. Ainda recentemente fiz parte de um grupo de trabalho que elaborou listagens de livros aconselháveis para crianças e jovens. Seleccionámos 450, ficando com a mágoa de não introduzirmos numerosas obras interessantíssimas e com a certeza de que muitos dos jovens que consultariam a lista seriam “alérgicos” a grande parte da selecção.
Mais importante do que indicar meia dúzia de livros se me afigura habituar uma criança, um jovem a entrar nas bibliotecas, nas livrarias, deixando-os folhear à vontade isto e aquilo, dando-lhes como referência uma ampla listagem de obras classificadas por temas.
Não procurando puxar a brasa à minha sardinha, não posso deixar de salientar a importância de os nossos jovens lerem os escritores portugueses actuais, que abordam uma realidade que lhes está mais próxima, além de pensarem e escreverem em português. E quem pode negar que haja bons autores de literatura infanto-juvenil entre nós?

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostei bastante deste post!

Francisco Medina disse...

Ok
Obraço